quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sweet Dreams or a Beautiful Nightmare



Esta tarde, enquanto dormia a sesta, tive o mais estranho sonho e fui imediatamente contá-lo à fufa Diana, que tem sempre tão bons conselhos e ideias interessantes. Esta manhã, estive também a falar com ela sobre a história que a minha Olívia me tinha contado, e a rapariga conseguiu acalmar-me. Tem mais juízo que a minha querida neta. Acontece que a minha Olívia ficou confusa. A fufa Diana nunca se casaria com ela. Foi um alívio para mim que vocês nem podem imaginar. É verdade que depois eu é que vou ter que limpar o ranho e as lágrimas da cara da minha neta, mas não importa, porque já tenho um novo pretendente para lhe apresentar. Não hei-de morrer sem ver a minha querida Olívia casada com um bom partido! Nem que seja a última coisa que eu faça!


Então a fufa Diana esteve a explicar-me tudo sobre o significados dos sonhos. Falou-me de um tal de Freud e o que ele percebia do assunto, mas eu fiquei a perceber tudo menos o sonho que tive.


Segundo Freud, todos possuímos um lado oculto, carnal, em que somos movidos por impulsos animalescos. Faz-me lembrar um vizinho meu que se afundou no lado negro no dia em que começou a ladrar. No meu sonho, eu estava a tomar banho com água azul, sais de banho, velas com essência de morango e óleos essenciais de magnólia. Mas tirando isso, até cheirava a essência floral de banana-manga.
O jantar, nesse sonho, foi bacalhau com broa e sementes de jindungo… as batatas estavam mal cozidas e a máquina de lavar secou a roupa a frio. O ferro de engomar não passou e eu fiquei a pé (porque o condutor do ferro de engomar é um cabrão e a mulher pôs-lhe os cornos).
Como o sol ainda não tinha nascido, eu já estava atrasada para a primeira aula, de tal modo que decidi ir a nado. Ao chegar à outra margem rebolei na lama, pois estava na margem errada e já tinha passado meia hora. Ao rebolar, apercebi-me de uma cara conhecida, olhando para mim com dois olhos enormes e escuros e um sorriso muito aberto. Era a caveira da minha falecida avó que decidira emergir do meio da terra do cemitério local. Dei-lhe um beijinho na testa e passando pelo portão do cemitério choquei contra um carro funerário. Eu fiquei bem, mas tanto quanto fiquei a saber, uma das pessoas que lá ia dentro ficou morta e o carro teve que ir para o hospital. Com uma unha do pé encravada, passei pelo dermatologista para que ele me desse uma mãozinha. Deu-me duas e fiquei a saber que era maneta. Como a unha continuava a doer agradavelmente e dela nascia um malmequer, pedi ao dermatologista que desse uma olhadela. Ele deu. Porém a força foi tanta que da minha unha não só nascia um malmequer como também um olho do diabo (como o dermatologista era vesgo pediu ao seu piriquito, o Diabo, que desse ele mesmo a olhadela e dissesse o que achava do caso).
- É um caso bicudo, senhor doutor. – Respondeu o Diabo no momento em que ficou sem o olho.
Pois bem, a partir daí o Diabo passou a ser chamado Camões – o poeta zarolho.


Foi então que acordei! Ainda não percebi como é que o senhor Freud é capaz de explicar isto...


Se alguém tiver uma opinião, é favor partilhar, porque começo a ficar aflita. Entretanto, vou aquecer o meu jantar. Ainda sobraram alguns dos cogumelos que a minha Olívia trazia na malinha que eu lhe comprei.


Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 3ª Parte


Um tremor de terra na semana passada? Uma tempestade esta noite? Ainda não acreditam em mim?!
Que não dêem importância aos grandes acontecimentos, já é normal. Não me admiro. Estão sempre a acontecer e são tão falados na televisão que as pessoas já os ignoram. Morreram mil pessoas quando o vulcão explodiu, ou morreram outras tantas com o outro cataclismo... Desde que a nossa casa esteja inteira e ninguém entorne o nosso café, está tudo bem. Suspiramos, murmuramos "pobrezinhos" e coçamos as costas. O que me espanta é que as pessoas não reparem nas pequenas coisas!
Vamos por partes:
Na semana passada, o meu gato Matias estava irrequieto. Mas não era um irrequieto normal. Estava possesso. Abria a boca e rosnava! Depois, atirava-se às cortinas e fugia de mim enquanto alagava todos os trainecos que eu tinha nos móveis! «Anda cá, gato vadio!» Mas ele não me dava ouvidos. Nessa noite - Tumba! Terramoto! E parecia que o mundo estava a cair. Era tal e qual como se viu naquele filme! Não me levantei da cama sem antes ligar a luz do meu candeeiro. Se se tivesse aberto uma fenda por baixo da minha cama, podia cair lá para dentro. E Deus seja minha testemunha: Não hei-de ir para o Inferno!

A noite passada, foi a minha neta Olívia a dizer-me que se queria casar com a fufa Diana! Eu disse-lhe «Anda cá, menina vadia!» Mas ela não me deu ouvidos! Só gritava que agora já se podiam casar e que não estava a fazer nada ilegal, enquanto eu corria atrás dela com uma vassoura! Claro que lhe disse «Pode não ser ilegal para o senhor Sócrates, mas é ilegal para o Senhor lá de cima!» Foi então que os meus comprimidos para dormir começaram a fazer efeito e tombei no sofá! O raio da miúda ainda teve a decência de me desligar as luzes e a televisão, que a electricidade agora está cara. Mas tapou-me com um cobertor até à cabeça, como se eu estivesse morta! Se calhar, foi o que ela pensou. «Olha, matei a velha de susto com esta brincadeira horrorosa!» Ah, pois... Deve ter sido. Porque isto só pode ter sido brincadeira!
Continuando, quando acordei já eram umas quatro da madrugada e o vendaval era tal que quando abri a porta o gato Matias quase levantou voo! Bastou abrir uma frincha da porta para entrar terra, folhas, ramos de árvores, um caixote do lixo e o Sr. Abílio que também já voava.
Sinceramente,
Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 2ª Parte

Uff... Já estou mais recomposta agora...
Como eu vos estava a contar, esta semana vi algo que só podia ser obra do diabo, pela janela do meu quarto.
Pela janela do meu quarto consigo ver o pátio da escola primária, onde aquelas pequenas criaturas a que toda a gente chama crianças brincam e gritam e acabam por chorar algumas vezes. Pois fiquei estarrecida quando vi um espectáculo inimaginável. Um dos miúdos, o Rodrigo, neto da Hortênsia, que tem muito mau feitio, estava sentado nos degraus da escola a observar um pombo. Observava o pombinho, com aqueles olhos redondos de atrasadinho que a avó também tem, com tanta atenção, que seria de esperar que até fosse boa pessoa. Levanta a sacola, tira de lá um pão com marmelada que a mãe deve ter comprado na mercearia do Sr. Alberto, que é muito boa e docinha cá dentro, começa a atirar bocadinhos de côdea ao bicho. O pombo louco a devorar os bocados de pão que voavam pelo ar, o miudinho a observá-lo calado e os colegas a correr e a saltar pelo recreio que nem cabrinhas montesas. Até aqui tudo bem.
Porém, o Rodriguinho farta-se e atira com o papo-seco inteiro ao pombo. Enjojado, o bicho ainda cambaleia algumas vezes, mas depressa se apercebe do banquete que lhe tinha caído em cima e começa a comê-lo. O Rodriguinho deve ter ficado desapontado e levantou-se. Pronto, vai brincar com os amigos, não é? Não! Pega numa pedra bem grande e atira-a ao pombo! Desta vez, o animal não se refez tão depressa. Já nem conseguia fugir do miúdo enquanto este levantava o pedregulho do chão e se voltava a aproximar. O bicho bem que abanava as asas e se contorcia todo, mas já era tarde de mais. Leva com a pedra mais duas vezes antes de parar de se debater. Depois, era ver o Rodriguinho a correr atrás de um colega, com a pedra sangrenta e com penas nas mãos. O colega bem que gritava "Não me toques com essa pedra", mas o Rodriguinho não desistiu enquanto não lhe sujou as calças e um jovem bastante elegante que passava pela rua apareceu para lhe puxar as orelhas.
O Demo andava à espreitei e encontrou ali um súbdito fresquinho! Ele anda à caça de seguidores e o Dia do Julgamento aproxima-se cada vez mais! Temos que ler os sinais! Eles andem aí!
Seja como for, eu adorei ver a forma como aquele jovem rapaz soube dar uns açoites bem valentes no rabo do Rodrigo. Aquele miúdo bem os merecia. O rapaz sabia como dar educação às crianças. "A força da mão é o melhor remédio para a má educação!" Eu sempre o disse. Há-de ser um bom pai, um dia. Tenho a certeza. E, pelo aspecto, julgo que deve ter tudo o que é preciso num bom homem de família, se é que me entendem... Mesmo sendo tão difícil de se enamorar por rapazes, estou certa de que até a minha neta Olívia era capaz de o achar encantador. Oh! acrescentem-lhe uns anos e hão-de ver o homem que ele há-de ser! Já é tão alto e robusto... Esperem para ver!
Acontece que eu não ando a ver o tempo passar, excepto quando não há nada para fazer, e decidi meter mãos à obra. Saí de casa, atravessei a rua e Pum! Estatelei-me no chão. O jovem encantado largou logo o Rodrigo da mão e veio em meu auxílio! Ajudou-me a levantar-me do chão, uma pobre velhinha em apuros. Estava tão desorientada (pensava ele) que nem me lembrava onde ficava a minha casa! Tão prestável que ele era! Levou-me para o emprego dele, onde eu poderia ficar em segurança até alguém me ir buscar. Chamava-se Jorge e trabalhava num cinema. Para quem não sabe, um cinema é como um teatro, onde as pessoas se sentam e vêm um filme numa televisão gigante. Fui algumas vezes, quando era jovem, com o meu Arnaldo. Mas depois os filmes ficaram a cores e perderam a piada. Já não tinham o mesmo encanto.
Continuando, quando lá chegámos, ele puxou uma cadeira para eu me sentar, muito cavalheiro, atrás do balcão, para eu poder fazer uma chamada para alguém da minha família. Telefonei para a minha Olívia, claro. Mas a porcalhona só foi capaz de ir buscar a avó meia hora depois. Tratei logo de os apresentar. Ainda passei as mãos pelo cabelo dela e tirei-lhe aquele maldito gorro que ela agora usa. Penteei-a com os dedos, enquanto ela tentava livrar-se de mim, mas acho que consegui que ela se parecesse com uma cidadã e o querido Jorge foi muito simpático com ela. Disse que não tinha muito tempo, porque as pessoas já estavam a entrar para as salas e ele tinha que ir projectar o filme, mas deixava-nos entrar de graça, se nós quiséssemos. Dei uma cotovelada na Olívia e ela aceitou. Até sorriu para ele. Finalmente, começou a aprender comigo!

Mas, sinceramente, preferia, agora que já vi o filme, que ela tivesse rejeitado a oferta. O filme era estrangeiro e tinha legendas que passavam demasiado depressa e era-me difícil lê-las. Depois havia uma gruta com água a ferver. A história estava um bocado confusa, mas pareceu-me que a água estava a ferver porque ó Inferno estava a chegar à terra. Depois, havia um homem barbudo que não sabia comer sem se babar todo e outro que estava divorciado e tinha levado os filhos a acampar. Finalmente, o diabo parece começar a conseguir abrir umas fendas no chão com terramotos. E que terramotos! Aquilo parecia o fim do mundo! Era gente a morrer em todo o lado e a cair de prédios e aviões a voar pelo meio! Meu Deus! Eu não parava de me contorcer! Estava quase a gritar! Mas como eles deviam ser boas pessoas, Deus até os salvou e eles conseguiram escapar. Mas depois... Ai, Credo! Quando o Diabo consegue escapar por uma montanha... Foi uma explosão de queimar os olhos! Um mar de chamas assustador! Uma nuvem de fumo e brasas a espalhar-se pela terra inteira! Eu não aguentei mais e comecei a gritar! Ainda por cima começaram a agarrar-me por todos os lados! Eram só mãos à minha volta e a puxarem-me! Eu gritava por ajuda! Uma ajuda que não chegava! «Oh, Meu Deus! Oh, Meu Deus! Salva-me! Oh, Meu Deus!» Eu meti as mãos nos olhos e só os abri quando aquelas mãos me largaram e eu já estava fora do cinema. A minha Olívia dizia-me para me acalmar, que era só um filme! Mas como é que podia ser um filme, se eu tinha acabado de ver aquilo tudo! O homem das barbas e aquela gente toda tinha morrido! E a nuvem demoníaca que saiu com a explosão de certeza que vinha a caminho! Eles podiam achar que não, mas aquilo tinha acontecido e de certeza que era o diabo a invadir o mundo! Eles não perceberam o filme! Aquilo era a sério e eles não perceberam!
O Jorge chamou um táxi e a Olívia levou-me até casa. Deu-me um chá e chamou a fufa Diana para me dar uns comprimidos que ela toma quando está nervosa, mas ainda não consegui parar de tremer! Nem durmo bem à noite! O mundo é grande, mas eu sei que ele vem aí. Foi por isso que Deus me deu o gato Matias! É o meu guardião. E é ele que vai decidir se eu fico cá em baixo a arder ou se vou para o Céu! E eu hei-de ir para o Céu, ou não me chamo Antonieta!
Sinceramente,
Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 1ª Parte



Ai, meus queridos, ainda não consegui parar de tremer. Esta semana, fui com a minha Olívia ao cinema. Porquê? Porque por muito simpática que seja a fufa Diana, não deixarei que a minha neta caia nos caminhos da luxúria e da perdição! Jamais!

Esta semana, sentei-me à janela do meu quarto, algo que eu faço algumas vezes, e vi algo que só pode ter sido obra do diabo! Pela minha janela consigo ver todo o meu bairro. Quando não vejo o que as minhas vizinhas andam a fazer, ou os trabalhadores da obras na igreja de Nossa Senhora dos Aflitos, que se matam a trabalhar, todo o santo dia a martelar e a transpirar e a mandar piropos de cima do telhado da igreja às raparigas que vão para a Universidade... É uma vergonha, mas... Oh! Aquilo é que são homens! Fortes que nem touros! Têm pêlos no peito!

Onde é que eu ia? Olhem, já nem sei. Vou fazer um chá. Mais logo acabo a história. Os afrontamentos dão cabo de mim... Meu Deus... A falta que o meu Arnaldo me faz...