quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sweet Dreams or a Beautiful Nightmare



Esta tarde, enquanto dormia a sesta, tive o mais estranho sonho e fui imediatamente contá-lo à fufa Diana, que tem sempre tão bons conselhos e ideias interessantes. Esta manhã, estive também a falar com ela sobre a história que a minha Olívia me tinha contado, e a rapariga conseguiu acalmar-me. Tem mais juízo que a minha querida neta. Acontece que a minha Olívia ficou confusa. A fufa Diana nunca se casaria com ela. Foi um alívio para mim que vocês nem podem imaginar. É verdade que depois eu é que vou ter que limpar o ranho e as lágrimas da cara da minha neta, mas não importa, porque já tenho um novo pretendente para lhe apresentar. Não hei-de morrer sem ver a minha querida Olívia casada com um bom partido! Nem que seja a última coisa que eu faça!


Então a fufa Diana esteve a explicar-me tudo sobre o significados dos sonhos. Falou-me de um tal de Freud e o que ele percebia do assunto, mas eu fiquei a perceber tudo menos o sonho que tive.


Segundo Freud, todos possuímos um lado oculto, carnal, em que somos movidos por impulsos animalescos. Faz-me lembrar um vizinho meu que se afundou no lado negro no dia em que começou a ladrar. No meu sonho, eu estava a tomar banho com água azul, sais de banho, velas com essência de morango e óleos essenciais de magnólia. Mas tirando isso, até cheirava a essência floral de banana-manga.
O jantar, nesse sonho, foi bacalhau com broa e sementes de jindungo… as batatas estavam mal cozidas e a máquina de lavar secou a roupa a frio. O ferro de engomar não passou e eu fiquei a pé (porque o condutor do ferro de engomar é um cabrão e a mulher pôs-lhe os cornos).
Como o sol ainda não tinha nascido, eu já estava atrasada para a primeira aula, de tal modo que decidi ir a nado. Ao chegar à outra margem rebolei na lama, pois estava na margem errada e já tinha passado meia hora. Ao rebolar, apercebi-me de uma cara conhecida, olhando para mim com dois olhos enormes e escuros e um sorriso muito aberto. Era a caveira da minha falecida avó que decidira emergir do meio da terra do cemitério local. Dei-lhe um beijinho na testa e passando pelo portão do cemitério choquei contra um carro funerário. Eu fiquei bem, mas tanto quanto fiquei a saber, uma das pessoas que lá ia dentro ficou morta e o carro teve que ir para o hospital. Com uma unha do pé encravada, passei pelo dermatologista para que ele me desse uma mãozinha. Deu-me duas e fiquei a saber que era maneta. Como a unha continuava a doer agradavelmente e dela nascia um malmequer, pedi ao dermatologista que desse uma olhadela. Ele deu. Porém a força foi tanta que da minha unha não só nascia um malmequer como também um olho do diabo (como o dermatologista era vesgo pediu ao seu piriquito, o Diabo, que desse ele mesmo a olhadela e dissesse o que achava do caso).
- É um caso bicudo, senhor doutor. – Respondeu o Diabo no momento em que ficou sem o olho.
Pois bem, a partir daí o Diabo passou a ser chamado Camões – o poeta zarolho.


Foi então que acordei! Ainda não percebi como é que o senhor Freud é capaz de explicar isto...


Se alguém tiver uma opinião, é favor partilhar, porque começo a ficar aflita. Entretanto, vou aquecer o meu jantar. Ainda sobraram alguns dos cogumelos que a minha Olívia trazia na malinha que eu lhe comprei.


Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 3ª Parte


Um tremor de terra na semana passada? Uma tempestade esta noite? Ainda não acreditam em mim?!
Que não dêem importância aos grandes acontecimentos, já é normal. Não me admiro. Estão sempre a acontecer e são tão falados na televisão que as pessoas já os ignoram. Morreram mil pessoas quando o vulcão explodiu, ou morreram outras tantas com o outro cataclismo... Desde que a nossa casa esteja inteira e ninguém entorne o nosso café, está tudo bem. Suspiramos, murmuramos "pobrezinhos" e coçamos as costas. O que me espanta é que as pessoas não reparem nas pequenas coisas!
Vamos por partes:
Na semana passada, o meu gato Matias estava irrequieto. Mas não era um irrequieto normal. Estava possesso. Abria a boca e rosnava! Depois, atirava-se às cortinas e fugia de mim enquanto alagava todos os trainecos que eu tinha nos móveis! «Anda cá, gato vadio!» Mas ele não me dava ouvidos. Nessa noite - Tumba! Terramoto! E parecia que o mundo estava a cair. Era tal e qual como se viu naquele filme! Não me levantei da cama sem antes ligar a luz do meu candeeiro. Se se tivesse aberto uma fenda por baixo da minha cama, podia cair lá para dentro. E Deus seja minha testemunha: Não hei-de ir para o Inferno!

A noite passada, foi a minha neta Olívia a dizer-me que se queria casar com a fufa Diana! Eu disse-lhe «Anda cá, menina vadia!» Mas ela não me deu ouvidos! Só gritava que agora já se podiam casar e que não estava a fazer nada ilegal, enquanto eu corria atrás dela com uma vassoura! Claro que lhe disse «Pode não ser ilegal para o senhor Sócrates, mas é ilegal para o Senhor lá de cima!» Foi então que os meus comprimidos para dormir começaram a fazer efeito e tombei no sofá! O raio da miúda ainda teve a decência de me desligar as luzes e a televisão, que a electricidade agora está cara. Mas tapou-me com um cobertor até à cabeça, como se eu estivesse morta! Se calhar, foi o que ela pensou. «Olha, matei a velha de susto com esta brincadeira horrorosa!» Ah, pois... Deve ter sido. Porque isto só pode ter sido brincadeira!
Continuando, quando acordei já eram umas quatro da madrugada e o vendaval era tal que quando abri a porta o gato Matias quase levantou voo! Bastou abrir uma frincha da porta para entrar terra, folhas, ramos de árvores, um caixote do lixo e o Sr. Abílio que também já voava.
Sinceramente,
Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 2ª Parte

Uff... Já estou mais recomposta agora...
Como eu vos estava a contar, esta semana vi algo que só podia ser obra do diabo, pela janela do meu quarto.
Pela janela do meu quarto consigo ver o pátio da escola primária, onde aquelas pequenas criaturas a que toda a gente chama crianças brincam e gritam e acabam por chorar algumas vezes. Pois fiquei estarrecida quando vi um espectáculo inimaginável. Um dos miúdos, o Rodrigo, neto da Hortênsia, que tem muito mau feitio, estava sentado nos degraus da escola a observar um pombo. Observava o pombinho, com aqueles olhos redondos de atrasadinho que a avó também tem, com tanta atenção, que seria de esperar que até fosse boa pessoa. Levanta a sacola, tira de lá um pão com marmelada que a mãe deve ter comprado na mercearia do Sr. Alberto, que é muito boa e docinha cá dentro, começa a atirar bocadinhos de côdea ao bicho. O pombo louco a devorar os bocados de pão que voavam pelo ar, o miudinho a observá-lo calado e os colegas a correr e a saltar pelo recreio que nem cabrinhas montesas. Até aqui tudo bem.
Porém, o Rodriguinho farta-se e atira com o papo-seco inteiro ao pombo. Enjojado, o bicho ainda cambaleia algumas vezes, mas depressa se apercebe do banquete que lhe tinha caído em cima e começa a comê-lo. O Rodriguinho deve ter ficado desapontado e levantou-se. Pronto, vai brincar com os amigos, não é? Não! Pega numa pedra bem grande e atira-a ao pombo! Desta vez, o animal não se refez tão depressa. Já nem conseguia fugir do miúdo enquanto este levantava o pedregulho do chão e se voltava a aproximar. O bicho bem que abanava as asas e se contorcia todo, mas já era tarde de mais. Leva com a pedra mais duas vezes antes de parar de se debater. Depois, era ver o Rodriguinho a correr atrás de um colega, com a pedra sangrenta e com penas nas mãos. O colega bem que gritava "Não me toques com essa pedra", mas o Rodriguinho não desistiu enquanto não lhe sujou as calças e um jovem bastante elegante que passava pela rua apareceu para lhe puxar as orelhas.
O Demo andava à espreitei e encontrou ali um súbdito fresquinho! Ele anda à caça de seguidores e o Dia do Julgamento aproxima-se cada vez mais! Temos que ler os sinais! Eles andem aí!
Seja como for, eu adorei ver a forma como aquele jovem rapaz soube dar uns açoites bem valentes no rabo do Rodrigo. Aquele miúdo bem os merecia. O rapaz sabia como dar educação às crianças. "A força da mão é o melhor remédio para a má educação!" Eu sempre o disse. Há-de ser um bom pai, um dia. Tenho a certeza. E, pelo aspecto, julgo que deve ter tudo o que é preciso num bom homem de família, se é que me entendem... Mesmo sendo tão difícil de se enamorar por rapazes, estou certa de que até a minha neta Olívia era capaz de o achar encantador. Oh! acrescentem-lhe uns anos e hão-de ver o homem que ele há-de ser! Já é tão alto e robusto... Esperem para ver!
Acontece que eu não ando a ver o tempo passar, excepto quando não há nada para fazer, e decidi meter mãos à obra. Saí de casa, atravessei a rua e Pum! Estatelei-me no chão. O jovem encantado largou logo o Rodrigo da mão e veio em meu auxílio! Ajudou-me a levantar-me do chão, uma pobre velhinha em apuros. Estava tão desorientada (pensava ele) que nem me lembrava onde ficava a minha casa! Tão prestável que ele era! Levou-me para o emprego dele, onde eu poderia ficar em segurança até alguém me ir buscar. Chamava-se Jorge e trabalhava num cinema. Para quem não sabe, um cinema é como um teatro, onde as pessoas se sentam e vêm um filme numa televisão gigante. Fui algumas vezes, quando era jovem, com o meu Arnaldo. Mas depois os filmes ficaram a cores e perderam a piada. Já não tinham o mesmo encanto.
Continuando, quando lá chegámos, ele puxou uma cadeira para eu me sentar, muito cavalheiro, atrás do balcão, para eu poder fazer uma chamada para alguém da minha família. Telefonei para a minha Olívia, claro. Mas a porcalhona só foi capaz de ir buscar a avó meia hora depois. Tratei logo de os apresentar. Ainda passei as mãos pelo cabelo dela e tirei-lhe aquele maldito gorro que ela agora usa. Penteei-a com os dedos, enquanto ela tentava livrar-se de mim, mas acho que consegui que ela se parecesse com uma cidadã e o querido Jorge foi muito simpático com ela. Disse que não tinha muito tempo, porque as pessoas já estavam a entrar para as salas e ele tinha que ir projectar o filme, mas deixava-nos entrar de graça, se nós quiséssemos. Dei uma cotovelada na Olívia e ela aceitou. Até sorriu para ele. Finalmente, começou a aprender comigo!

Mas, sinceramente, preferia, agora que já vi o filme, que ela tivesse rejeitado a oferta. O filme era estrangeiro e tinha legendas que passavam demasiado depressa e era-me difícil lê-las. Depois havia uma gruta com água a ferver. A história estava um bocado confusa, mas pareceu-me que a água estava a ferver porque ó Inferno estava a chegar à terra. Depois, havia um homem barbudo que não sabia comer sem se babar todo e outro que estava divorciado e tinha levado os filhos a acampar. Finalmente, o diabo parece começar a conseguir abrir umas fendas no chão com terramotos. E que terramotos! Aquilo parecia o fim do mundo! Era gente a morrer em todo o lado e a cair de prédios e aviões a voar pelo meio! Meu Deus! Eu não parava de me contorcer! Estava quase a gritar! Mas como eles deviam ser boas pessoas, Deus até os salvou e eles conseguiram escapar. Mas depois... Ai, Credo! Quando o Diabo consegue escapar por uma montanha... Foi uma explosão de queimar os olhos! Um mar de chamas assustador! Uma nuvem de fumo e brasas a espalhar-se pela terra inteira! Eu não aguentei mais e comecei a gritar! Ainda por cima começaram a agarrar-me por todos os lados! Eram só mãos à minha volta e a puxarem-me! Eu gritava por ajuda! Uma ajuda que não chegava! «Oh, Meu Deus! Oh, Meu Deus! Salva-me! Oh, Meu Deus!» Eu meti as mãos nos olhos e só os abri quando aquelas mãos me largaram e eu já estava fora do cinema. A minha Olívia dizia-me para me acalmar, que era só um filme! Mas como é que podia ser um filme, se eu tinha acabado de ver aquilo tudo! O homem das barbas e aquela gente toda tinha morrido! E a nuvem demoníaca que saiu com a explosão de certeza que vinha a caminho! Eles podiam achar que não, mas aquilo tinha acontecido e de certeza que era o diabo a invadir o mundo! Eles não perceberam o filme! Aquilo era a sério e eles não perceberam!
O Jorge chamou um táxi e a Olívia levou-me até casa. Deu-me um chá e chamou a fufa Diana para me dar uns comprimidos que ela toma quando está nervosa, mas ainda não consegui parar de tremer! Nem durmo bem à noite! O mundo é grande, mas eu sei que ele vem aí. Foi por isso que Deus me deu o gato Matias! É o meu guardião. E é ele que vai decidir se eu fico cá em baixo a arder ou se vou para o Céu! E eu hei-de ir para o Céu, ou não me chamo Antonieta!
Sinceramente,
Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 1ª Parte



Ai, meus queridos, ainda não consegui parar de tremer. Esta semana, fui com a minha Olívia ao cinema. Porquê? Porque por muito simpática que seja a fufa Diana, não deixarei que a minha neta caia nos caminhos da luxúria e da perdição! Jamais!

Esta semana, sentei-me à janela do meu quarto, algo que eu faço algumas vezes, e vi algo que só pode ter sido obra do diabo! Pela minha janela consigo ver todo o meu bairro. Quando não vejo o que as minhas vizinhas andam a fazer, ou os trabalhadores da obras na igreja de Nossa Senhora dos Aflitos, que se matam a trabalhar, todo o santo dia a martelar e a transpirar e a mandar piropos de cima do telhado da igreja às raparigas que vão para a Universidade... É uma vergonha, mas... Oh! Aquilo é que são homens! Fortes que nem touros! Têm pêlos no peito!

Onde é que eu ia? Olhem, já nem sei. Vou fazer um chá. Mais logo acabo a história. Os afrontamentos dão cabo de mim... Meu Deus... A falta que o meu Arnaldo me faz...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Bai Bai!"


Acabei agora de jantar com o gato Matias. Este gato malvado anda levado da breca e exige de mim o mesmo que uma pessoa adulta. Desde que começou a falar, não tem tento na língua. Só com refeições à mesa é que o bichano se acalma. Se não lhe faço as vontades, acusa-me logo com aqueles olhos demoníacos. Descobri que ele já não quer comida enlatada, porque lhe provoca gases. A sua comida preferida é fígado e rins com ervilhas e não suporta que lhe dê anchovas! Nunca mais caio no erro de lhe dar anchovas. Rugia como um monstro e trepava pelas paredes como se estivesse possuído. Mas não me vou queixar. Eu sei que o Senhor me está apenas a testar, e este gato há-de ser o meu julgador na hora final. E hei-de agradar o bicho, custe o que custar, ou não me chamo Antonieta Piriquita!

Ora, hoje foi um dia que nunca mais acabava, pelo que jantar com o Matias foi o menor dos meus males. E olhem que jantar com este animal não é a coisa mais fácil do mundo. Tudo começou com a dona Teresa a choramingar-se, esta manhã. Tinha eu acabado de lavar a loiça do meu pequeno almoço, quando a vejo pela janela da minha cozinha. Estava toda vermelha, a mulher! Nem sabe como fica nojenta com o ranho a sair-lhe das ventas, inchada que nem um tomate e aqueles olhos esbugalhados de mulher levada. A Dona Teresa nunca foi uma senhora muito normal. Ela deve ter nascido com os seus problemas, e acho que tudo piorou quando se apercebeu que era feia. Qualquer coisa que aconteça, fica logo endoidecida. Chamei-a para casa e meti logo uma chaleira no lume para lhe fazer um chá de tília que acalmasse aquele bicho, porque não estava para aturar aquela brutidão a manhã toda. Temos que a amansar primeiro.

Aqui na vizinhança, ninguém gosta muito de a aturar, mas como a dona Teresa sabe tudo sobre toda a gente, todas gostam de a ouvir falar. Como em terra de cegos, quem tem um olho é rei, ninguém quer ficar em desvantagem. Há que saber tudo sobre todos, para o caso de circularem boatos sobre nós. Acontece que a Teresa esta manhã estava a chorar porque o marido da Jertrudes lhe respondeu "Bai Bai" quando ela lhe deu os bons dias na padaria! Ela não podia crer que aquele homem tivesse o descaramento de a ofender com palavras estrangeiras à frente de toda a vizinhança. O marido da Jertrudes viveu na América durante os anos do Salazar. Há quem diga que fosse porque cá não tinha dinheiro, mas eu digo que foi porque ele era um desavergonhado que fornicava com a moça mais nova da dona Custódia, que era muito boa senhora e não tinha culpa das filhas degenerarem, e teve que fugir para não ter que se casar com aquela porcalhona desavergonhada, que segundo dizem se foi prostituir numa ilhota grega e vendeu os filhos a troco de pão.

Assim, desde que veio do outro lado do mundo, onde andam a encher as pessoas de pão e carne como se preparassem os porcos para a engorda (Hão-de se começar a comer todos uns aos outros! Vão ver!), o marido da Jertrudes teve sempre a mania de só dizer nomes e palavrões naquela língua de pagãos. Acha-se tão importante que não pode mandar as pessoas à merda em português. Em inglês é mais fino! Fiquei impressionada com esta história da dona Teresa. A mulher realmente ficou transtornada, porque não conseguiu esconder o choque quando ele lhe chamou "Bai Bai!" Fugiu logo da padaria e ficou o mundo inteiro a rir-se dela. Eu não faço ideia o que quer dizer "Bai Bai", mas não deve ser coisa boa...

Seja como for, eu disse-lhe para não pensar mais no assunto, que não devia ser uma ofença assim tão grande. Afinal, por que razão havia ele de a ofender muito, por ela lhe desejar "Bom dia!"? Não devia ser nada pior que parva ou chata. Enchi-a de bolinhos de centeio e ela limpou as beiças ranhosas e começou a desbobinar. Contou-me coisas que eu nunca imaginava. A fufa Diana, como a gente chama à filha da Virginia, traiu a namorada com outra rapariga. Eu fiquei logo de orelha espetada, temendo que ela dissesse o nome da minha querida Olívia, que eu tanto tento que não se estravie dos bons caminhos. Mas é teimosa que nem uma burra, aquela miúda! Tão perdida! E eu rezo tanto para que Deus lhe ponha juízo naquela cabeça!

Enfim... Tive que a mandar embora quando chegou a hora de almoço, porque ela não se calava e eu sei que o Matias se enerva quando ela está em casa, principalmente à hora de almoço! Aproveitei os restos de carne assada do jantar e disse ao gato que era de hoje. Ele acreditou. Ou pelo menos não se queixou. Telefonei à Olívia, para ela fazer companhia à sua avó durante o almoço, mas a rapariga atrevida disse que tinha ido almoçar no restaurante chinês dos Chuing, com um rapaz tinha conhecido quando ainda andava na escola. Os Chuing são uma família que veio viver para Portugal já há dez anos, mas ainda não sabem falar português. Ou são burros, ou fingem que o são. Seja como for, não acreditei nela, e fui ver com os meus próprios olhos. Nem almocei.

Quando cheguei àquele restaurante manhoso, com cheiro a peixe cru e ratazanas do tamanho de gatos a guardar as traseiras, procurei logo por ela, mas o chinesinho Lipopó mais novo atravessou-se logo à minha frente a perguntar-me se eu quelia comêle clépe chinês, alôz chau-chau, sói-sói de polco e outras barbaridades do género. Tive que o enchutar com duas bengaladas no lombo para ele me deixar em paz. Foi então que vi a minha neta desavergonhada a falar com a fufa Diana! Nem quis acreditar! A almoçar com um rapaz da escola? A fufa Diana pode ser mais machona que muitos rapazes de hoje em dia, mas tanto quanto sei, Deus fez dela uma mulher!

Já me estava eu a preparar para as coçar de bengala, quando a fufa Diana pediu que eu me sentasse com elas e, não sei bem como aconteceu, fiquei a conversar com elas a tarde inteira. A fufa Diana pode ter os seus defeitos, mas é muito boa pessoa. Só de olhar para mim, percebeu que a minha artrite estava pior. Disse-me logo que eu tinha que ir depressa ao médico. E viu qualquer coisa estranha nos meus olhos. Será que estava a ficar com cataratas? Fiquei coberta de medo! Como a rapariga é auxiliar no hospital, contacta com muita gente e já sabe identificar muitos problemas de saúde. E deixou-me seriamente preocupada! Nós, de um momento para o outro, estamos com os pés para a cova e nem nos apercebemos! E eu ainda era demasiado nova para ter os sinais que ela me encontrou na bochecha esquerda! Podia ser o início de um cancro maligno! E ela apercebeu-se das minhas cruzes... Disse-me que uma banana ou um pepino todas as manhãs me iam trazer anos de vida. Deus a oiça! Eu que andava a julgar aquela rapariga... Afinal, a fufa Diana até tem uma boa alma.

Fui logo marcar consulta e quando cheguei a casa, às cinco e meia, já estava a anoitecer, e o gato Matias a pedir-me o jantar. Fiz carapaus para nós dois, porque o peixe tem ferro por comer os anzóis quando é pescado, e se já tenho tantos problemas de saúde, não preciso também de uma anemia. O gato torceu a orelha, porque preferia filetes de pescada, mas eu não fiz caso do que ele me disse. Este dia deixou-me arrasada. A dona Antonieta pode ser rija, mas já é velha e não aguenta de tudo. Vou repousar agora e amanhã de manhã começo já a minha dieta de banana e pepino como a fufa Diana aconselhou. Deus guarde a sua boa alma.

Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sábado, 28 de novembro de 2009

Temos que correr com a escumalha! - Dona Antonieta foi tirar Sangue!

Meus queridos, como sabem, eu sou uma senhora com muitos problemas de saúde e tenho que fazer análises muitas vezes, vá-se lá saber porquê. O meu médico há-de saber o que anda a fazer...

Para quem não sabe, quando fazemos análises, entregamos o nosso xixi num frasquinho e deixamos aqueles vampiros sugarem-nos o sangue todo pelo braço. Alguns são tão maus que em vez de me tirarem o sangue pelo braço, tiram-no pelas veias das minhas mãos, que já me doem tanto, por causa da minha artrite.

Felizmente, a querida Cátia Vá-Nessa é uma rapariga extremamente competente que sabe o que faz. "Esta moça há-de ir longe", disse eu, uma vez, à minha neta Olívia, que me acompanha sempre até ao hospital para me ajudar com as minhas cruzes.

Todavia, estes são sítios muito mal frequentados, cheios de drogados à procura de mais seringas para tirarem mais sangue. Não percebo como é que há gente que gosta de estar sempre a espetar seringas nos braços o tempo todo e sentir prazer com isso. Para mim é um martírio.

Mas há gente esquisita em todo o lado.

E com a Dona Antonieta ninguém se mete!


Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«Nunca Mais!» - Especial Dia das Bruxas


Na noite passada, não consegui dormir. Não sei por que é que tudo aquilo aconteceu... Se foi de me ter enganado durante a missa, enquanto estávamos a rezar o Pai Nosso... Talvez fosse! Em vez de dizer «Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido,» eu disse algo do género «Assim como não perdoamos a quem nos tem ofendido». Na altura não pensei que Nosso Senhor Jesus Cristo ficasse ofendido, mas agora que penso que Ele foi pregado numa cruz por nos ensinar o Pai Nosso, é capaz de ficar bastante aborrecido quando nos enganamos. Vendo bem, Ele fez um enorme sacrifício e o mínimo que podemos fazer é dizer o Pai Nosso sem nos enganarmos...

Na noite passada, o gato Matias começou a falar! Só aprendeu duas palavras, mas não se calava com isso!

Tudo começou por volta da meia-noite, com uns toques na porta do meu quarto. «Quem será a esta hora?» Pensei eu. «Quem será que bate à minha porta?» Permaneci deitada, pensando para comigo que era apenas uma visita à minha porta. Apenas uma visita e nada mais. Subitamente, pensei «Será a Olívia quem bate à minha porta?» e então a minha mente encheu-se de medos de que nem eu alguma vez imaginara... «Será um vagabundo para me violar? Será um jovem vagabundo quem está a bater à minha porta? Ou apenas a minha neta Olívia para me matar?» E com a força com que o meu coração batia, também a porta estremecia. Foi então que me levantei da cama, sem mais hesitações. Levantei-me e caminhei até à porta. «Senhor!» Disse eu, «Ou senhora! Peço-lhe o meu perdão, mas estava já a dormir quando veio bater gentilmente à minha porta». Abri então a porta de par em par... Trevas... Escuridão... e nada mais...

Ali, enfrentando as trevas, fiquei pensando, imaginando, sonhos que nenhum mortal alguma vez ousou sonhar. Foi então que o silêncio foi interrompido. «Antonieta...»

«Antonieta?» murmurei eu, para ter a certeza do que tinha ouvido e nenhum eco o repetiu. Regressei ao meu quarto e fechei a porta. Voltei então a ouvir bater. Um pouco mais alto do que antes. «De certeza que é na janela. É na janela que estão a bater.» Abri a cortinas e vi o luar. A lua e as árvores e nada mais. Abri então a janela e um gato saltou para o meu parapeito. Saltou para o parapeito e correu pelo quarto. Correu até se sentar em frente da porta do meu quarto.

«Matias Francisco! Gato malvado!» Ficou sentado e nada mais. Inclinou a cabeça e juro que lhe vi um sorriso. Nunca vira um sorriso na cara daquele gato.

«Nunca Mais!» Disse ele, subitamente. Disse ele numa voz grave e tenebrosa, enquanto o meu grito ecoava pelo quarto e pelas ruas desertas do bairro. Porém, o Matias permaneceu sentado. Nunca uma criatura olhara para uma pessoa como os olhos julgadores daquele gato. Nem um pêlo eriçou. Imóvel como uma escultura. E aqueles olhos com que me julgava. «Ele vai-se embora» pensei eu, «abre-lhe a porta e ele não volta mais.» E ele repetiu «Nunca Mais!»
Agarrei então numa cadeira e comecei a agitá-la à frente dele. À frente do gato, da porta e da foto do meu Arnaldo. Comecei então a pensar, conquanto eu me conseguia acalmar, no que é que aquele gato queria dizer com as palavras «Nunca Mais!» E a luz do luar incidiu sobre o retrato. Incidiu sobre a foto do meu Arnaldo e fez-me pensar «Quererá o gato dizer que não voltarei a ver o meu Arnaldo? O meu falecido marido Arnaldo? Não devo pensar mais nele então...» e um sorriso encheu o meu espírito e enquanto eu virava a moldura ao contrário o gato murmurou «Nunca Mais!» Todo o meu corpo estremeceu, com a voz daquele gato.

«Profeta!» Disse eu, «Profeta ainda, mesmo que sejas coisa do diabo. Assegura-me, tu que a esta casa vieste assombrar de horror, diz-me de verdade, eu imploro, que é por ter que me arrepender do meu passado! Diz-me que vieste pelos meus fantasmas, diz-me, eu to imploro!». Respondeu-me o gato: «Nunca Mais!»

«Profeta!» Disse eu, «Diz-me pelo Céu e pelo Deus que ambos adoramos, diz-me por quem foste enviado! Eu to imploro! Foi pelo Frederico Rodrigo ou pelo meu Arnaldo? Diz-me que eles estão no descanso sagrado. Diz-me que repousam no descanso eterno para que o meu coração fique sossegado!». Respondeu-me o gato: «Nunca Mais!»

«Sejam essas palavras a nossa despedida, gato ou amigo!» Gritei eu, esganiçada! «Vira-me as costas e parte para a noite. Parte e não deixes um único pêlo para trás, que farta de varrer os teus pêlos estou eu! Deixa-me só na minha solidão e sai da frente da minha porta! Tira as garras do meu coração e separa esses olhos da minha alma!». Respondeu-me o gato: «Nunca Mais!»

E o gato, sem nunca se mexer, continua sentado. Continua sentado à porta do meu quarto. E os seus olhos parecem os olhos de um demónio que nunca dorme. E a lâmpada no tecto espalha a sombra dele pelo chão do meu quarto. E a minha alma presa àqueles olhos de demónio não voltará a repousar - Nunca Mais!

«Não faz mal.» Penso eu. «Terei que viver com isso». Agora, vou fazer o almoço. A minha neta Olívia vem cá almoçar comigo e ler-me uns poemas de um tal de Edgar Qualquer-Coisa. Talvez isso me acalme e me distraia das palavras com que aquele gato me assombrou... Nunca Mais...

Sinceramente, assombrada...

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Morrer Como um Homem no Cemitério

Meus Queridos,
Estava eu a ensinar a minha neta a fazer rendas para o enchoval, quando reconheci uma voz da rádio. Eu queria ouvir Rádio Renascença, mas como já é difícil convencer a minha Olívia a fazer renda, decidi dar-lhe algum espaço e deixei-a sintonizar o aparelho na Antena 3. Havia um tal de Alvim e uma Prova Oral que me dava a sensação de ser de muito mau gosto. Mas começo a ouvir a entrevista com mais atenção e apercebo-me que reconheço os entrevistados.

Há meses atrás, um grupo armado de câmaras de filmar invadiu o cemitério da minha paróquia às quatro da manhã. Não é que depois das poucas vergonhas que lá fizeram, tiveram o descaramento de ir falar sobre isso na rádio, para toda a gente ouvir?! Ora oiçam eles a falar do que fizeram lá no minuto 45. http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/prova-oral/?k=Morrer-como-um-homem.rtp&post=15562

Vou-vos contar toda a história. Estava eu na cama, a dormir o meu segundo sono, quando oiço gritos na rua. Gritos estridentes! Assustadores! Parecia que o demónio estava a subir à Terra e o mundo se enchia de dor e ranger de dentes. Afinal, era só a Celeste, mas fazia barulho pela humanidade inteira. Agarrei-me às traves da cama para me levantar e fui até à janela, toda torta por causa das minhas cruzes e ainda vestida com a minha camisa de dormir, que é branca e tem umas rendinhas que eu própria fiz quando era mais nova.

A Celeste corria pela rua com uma vassoura nas mãos e à frente dela estava um batalhão de travestis que tentavam entrar no cemitério! Ai, era a última coisa que eu esperava ver àquelas horas da noite! Homens vestidos de mulheres, cheios de saias e lantejoulas, levavam luzes e câmaras de filmar com eles como se fossem as armas que eles iam usar para invadir aquele espaço sagrado!
Calcei as minhas chinelas e saí assim para a rua para acordar a Gracinda e a Odete, que é a responsável por guardar o cemitério. Eu posso já parecer um pouco velha, porque já sou uma senhora de uma certa idade, mas digo-vos que, saindo assim, na minha camisa de dormir branca e rendada, senti-me belíssima como já não me sentia há anos. O meu cabelo esvoaçava com o vento que apertava aquele tecido leve contra o meu corpo. Senti-me como os anjos se devem sentir. Excepto as dores, claro, e todavia até isso ignorei, tal a satisfação que aquilo me dava. Senti a mão de Deus empurrar-me na direcção daqueles homens perdidos e tomados pelo Demo. Eu gritava e lançava gargalhadas que os faziam gritar a eles. Agora, eram os travestis que tinham medo!

Só quando peguei numa mangueira para os lavar dali para fora, é que a Odete chegou, ainda cheia de sono, a pedir que nós parássemos. Um senhor de gravata tinha um papel que lhes dava autorização para filmarem no cemitério. Agora, era com a Odete que nós gritávamos! Como é que ela tinha permitido uma coisa daquelas. Afinal, parecia que a decisão não tinha sido só dela, mas do padre e do sobrinho dela, que também é um rapaz assim um bocadinho esquisito. Eu tive que largar a mangueira, até porque já tinham avisado a polícia que nós iamos atacar aquelas criaturas. Mas não pensem que voltei para casa. Fiquei de pé, toda a santa noite a ouvi-los. Se não fossem as vozes de homens, parecia quase uma história de amor. Até espreitei pelo portão para ver o que aqueles ladrões estavam a fazer, mas nunca consegui, porque havia um monstro armado em touro que me enchutava de lá para fora de cada vez que eu me aproximava.

Acabei por fingir que tinha desistido e disse ao monstro que me ia deitar, porque já estava cheia de frio. Como eu sou velhota, ele até acreditou. Contudo, a verdade é que eu e a Celeste escondemo-nos atrás de um arbusto. O gato Matias quase que nos desmascarou, mas consegui enchutá-lo antes que ele começásse a miar.

Finalmente, já quase de manhã, quando eles começaram a sair pelos portões do cemitério, eu e a Celeste levantámo-nos e começámos a correr até eles com os nossos cabos de vassoura e atingimos logo dois deles. A Celeste atingiu um traveca mesmo no canto da boca. Eu acertei na Olívia! O que é que aquela vadia da minha neta estava a fazer com aquela gente?

«Pare com isso, avó! Eu só estava a ajudar com a iluminação! Eu trabalho para eles!»
Aquela rapariga tem que aprender umas coisas! Nunca mais a deixei procurar emprego. A trabalhar com travestis! A vergonha que eu senti! O desastre na minha própria casa! O meu Arnaldo até se deve ter contorcido debaixo da terra, só de ter a neta no cemitério a ajudar a filmar um bando de travestis no meio das campas. Desde então a Olívia só trabalhou nos empregos que eu escolhi para ela. Ela pode sofrer um pouco, mas é para o bem dela. Quem é que lhe deu autorização para ser diferente e se dar com gente duvidosa? Eu é que não fui!

Sinceramente...

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Meu Primeiro Casamento - A Fatídica História de Frederico Rodrigo


Esta manhã, quando apanhei o autocarro para ir aos correios, um homem exibiu-se à minha frente e fez-me recordar o meu primeiro marido. É verdade, meus queridos, a dona Antonieta teve dois maridos. E não se preocupem em relação ao exibicionista. Eu ensinei-lhe das boas. Não volta a mostrar o coisinho dele tão depressa.

O meu primeiro marido chamava-se Frederico Rodrigo e era o homem mais elegante que eu alguma vez vira na minha vida. Musculado, transpirado, ele trabalhava na quinta dos meus pais, como lenhador. Ele rachava lenha todo o santo dia com o seu machado. Quando eu acabava as minhas tarefas em casa, ia para o campo e podia ficar a observá-lo por trás de um sobreiro durante horas.

Um dia, numa das festas da minha aldeia, Casal da Desgraça, o Frederico Rodrigo abordou-me com a sua voz grave e turbulenta como uma tempestade e levou-me para a pista de dança. Oh! E ele agarrou-me como um homem. Nessa noite, fez-me o meu primeiro filho.

Segredou-me os seus segredos e sonhos, enquanto estávamos deitados num monte de feno, nus como Deus nos fez. Enquanto me cantava as músicas que ele próprio tinha escrito enquanto rachava lenha, a minha mente voou e eu fiquei nas nuvens. Frederico Rodrigo era o homem da minha vida e iria ser uma estrela.

Claro que quando percebemos que eu estava de esperanças, os nossos pais obrigaram-nos a casar. O que para mim foi como um sonho, para ele foi um pesadelo. Frederico Rodrigo teria que continuar a trabalhar como um boi para sustentar a sua família e não havia nada que ele pudesse fazer em relação aos seus sonhos.

Quando a criatura que eu tinha dentro de mim estava quase a nascer, Frederico Rodrigo teve um acidente de trabalho. Enquanto rachava lenha, o machado escorregou-lhe das mãos, deu uma pirueta no ar e enterrou-se nas suas costas. Foi no mesmo dia em que descobri que ele namorava com a Maria do Canto às escondidas, atrás da Capelinha de Nossa Senhora das Dores.

Tive duas semanas para descobrir um novo pai para o meu bebé. Foi então que conheci o Arnaldo. Um homem sensato, com um coração do tamanho do mundo, que trabalhava em Lisboa. Fomos felizes até ao dia em que ele teve aquele triste acidente. Deus o guarde para sempre.

Que Deus vos acompanhe, na Paz do Senhor.

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cataratas de Limonada

A mais triste notícia espalhou-se pela Capela da Nossa Senhora dos Aparecidos como um rio, enquanto rezávamos o terço na quarta-feira à noite. Descobrimos que a Lucinda, pobre alma, via mal porque tinha cataratas nos olhos. A mulher só tem 46 anos e ninguém me tira da cabeça que este infortúnio lhe bateu à porta por ter jantado com o Sr. Albino da Rua das Flores. Aquele homem é o Demo! Já tem sessenta e tal anos e desde que a mulher lhe pôs os cornos que decidiu comportar-se como o Chifrudo, a engatar mulheres mais novas e a fazê-las cair na tentação! À Antonieta é que ele nunca fez um convite para jantar! É só interesses!

Ora, para ajudar a pobre Lucinda, decidimos todas juntas angariar dinheiro suficiente para que a Lucinda pudesse ir a Cuba. Não percebo porque é que começaram a perguntar quanto é que custa o bilhete de avião, quando o Alentejo fica aqui tão perto. Devem ter medo que ela vá de carro e tenha um acidente.

Assim, ontem passei o dia a vender limonada com a Gracinda. Fizemos vinte euros. É um bom começo. Como o meu reumático já não me deixa segurar bem na faca, pedi à minha querida neta Olívia que me ajudasse. Claro que ela deu muito jeito a cortar os limões, a expremê-los, mas eu é que fiz a limonada. Deixo-vos já aqui o meu segredo: açúcar amarelo e uma pitadinha de guano seco, que é uma especiaria que o meu neto Ricardo trouxe das Áfricas depois de se casar. Mas não exagerem. Tem que ser na quantidade certa.

Continuando, o que eu queria era que a minha Olívia vestisse a camisola amarela que eu lhe tricotei pelos anos e me ajudasse a vender a limonada, porque nesta zona há muitos homens bem parecidos que podiam ser um bom partido para a garota. Mas a rapariga é tão tímida, tão vergonhosa! Passei a tarde a tentar convencê-la e ela só continuava a espremer limões!

E não é que, quando finalmente a convenci a vender uma limonada a um senhor que ali passava, ela conseguiu espantar-me o cliente? O gentil-homem, muito bem vestido e nos seus trinta e poucos anos (toda a gente sabe que uma rapariga, para se tornar uma boa mulher, precisa de um homem mais velho), foi sempre muito simpático e mandou algumas piadas simpáticas para a minha neta se rir para ele. E conseguiu. Eu própria, que estava a ver o enamoramento entre aqueles dois tão bem encaminhado, não consegui conter um sorriso de satisfação e de dever feito. Mas não é que, quando ela lhe estava a entregar o copo com a limonada, passa uma rabanada de vento que lhe levanta a saia?! E a desavergonhada não usava cuecas!!! O homem viu-lhe a piriquitita toda! TODA!!! Eu chamo-me Antonieta Piriquita e nunca mostrei a minha a ninguém!

Aquilo é que foi ver o homem recuar embaraçado! A vergonha que eu tive! VERGONHA! Nunca vi um homem beber uma limonada tão depressa! Até se engasgou! E no fim, soltou um «'Brigado!», como quem arrota e foi-se embora! Vou ter que ensinar tantas àquela rapariga! Se julga que vai ser Nossa Senhora e vai ter um filho do Espírito Santo, está muito enganada!
Sinceramente...

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

P.S.: Que Deus vos acompanhe, na Paz do Senhor!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Caloiros nos meus Crisântemos!


Há um ano atrás, fui até à universidade e, após passar por entre toda aquela juventude perdida, fui fazer a minha queixa:

«Estou farta de ter caloiros nos meus crisântemos! E a culpa é vossa! Praxam-nos tanto que se vão esconder nos meus canteiros! Parece uma praga de gafanhotos!»

Ao que me responderam:

«Não se preocupe, Dona Antonieta. Vamos já falar com a Associação de Estudantes e a situação para o ano não se torna a repetir.»

Indignadíssima, virei-lhes costas e saí de rompante daquela escola. Mas não sem antes chutar dois rapazolas no rabo! As mães deviam ensiná-los a meter as camisas para dentro e a fazer a barba! Parecem bandidos!

Este ano não se esconderam nos meus crisântemos, mas foram todos para o relvado que fica do outro lado da rua. Todo o santo dia a praguejar e a fazer barulho. Pedi ao Sr. Abílio para os ir enchutar de lá para fora, mas o homem, que sempre foi muito cobarde, graças à mãe dele que bebia aguardente quando estava emprenhada, ficou quieto a olhar para aqueles futuros doutores engravatadinhos a mandar as crianças rebolar pela relva. Duas horas que ele ficou parado, de braços cruzados, a olhar para eles!

Então, decidi tratar daquela praga como os ingleses quando chegaram à Austrália: com outra praga! Fui à casa da Josefa, que desde que foi para o Brasil nunca mais foi lavada, e enchi um frasco de compota com centenas de bichos, todos muito pequenos! Sei que havia pulgas, pequenas aranhas, lacraus, caruncho, borboletas, tantos tantos mosquitos e criaturas que eu nunca vi na minha vida! Só sei que eram tantos que encheram o frasco até ao cruto!

Peguei então no Matias e disse-lhe:

«Gato malvado, não me arranhes! Deixa-me pôr-te a coleira!»

E lá fomos nós, passeando pela relva e, sem querer, deixei cair o frasco aberto no meio daquela gente toda e fomo-nos embora... Só me apercebi que não tinha o frasco quando cheguei a casa...

No dia seguinte, passei pela escola para deixar uma tarte que eu fiz para a Associação de Estudantes. Há anos que não me sentia tão satisfeita. Não bati em nenhum rapazola. Caminhei por entre eles, toda sorrisos, enquanto os via coçarem-se! Ainda disse a duas rapariguinhas que aquelas papas que elas tinham nas pernas só desapareciam com azeite e óleo de amêndoas doces! Amêndoas doces!!! Ai, Meu Deus! Sei que pequei, mas soube-me tão bem! Já não me ria assim... Sei lá aos anos! Desde que o meu marido faleceu!

Com a Antonieta ninguém se mete!

Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Praxes e as Eleições


A minha vida tem estado uma debandada! Nunca se viu! Cada ano que passa é pior!

A Jertrudes bem me avisou, quando os meus filhos me compraram esta casa:

«Olhe, vizinha, é muito benvinda! Mas nem sabe no que se veio meter! Ter casa ao pé de uma faculdade não é o que imagina.»

Mas na altura eu só pensei para mim mesma que estava a viver ao pé de futuros doutores. Nem imaginava como estava errada. Ou pelo menos, quão bêbados e barulhentos eram os futuros doutores! Até às rapariagas! Jovens bonitas, a maioria deve passar fome, enfrascadas como se amanhã fosse o Dia do Julgamento! Tive que as enchutar dos meus canteiros, porque os estavam a fertilizar com vómito! Se ajudassem os meus crisântemos a nascer, mas não! Só lá nascem ervas daninhas de cada vez que alguém vomita! Inacreditável! Deve ser daquele pólen que eles fumam! Sai-lhes todo pelas ventas quando se lhes reviram as entranhas! E a Antonieta é que tem que andar de joelhos no jardim a arrancar as ervas daninhas. Eu, uma senhora que já não aguenta de tudo e tem joanetes. Tenho artrite nos joelhos e as minhas costas também me doem. E desde que aquela caloira de fisioterapia me tentou ajudar... Meu Deus! Nunca mais os deixo tocarem-me! Parecem patas de elefante!

Seja como for, nas eleições legislativas, até votei no Sr. Sócrates, mas a sorte dele foi as votações terem sido no domingo antes das praxes, que começaram na segunda-feira passada, pois se tivessem sido este fim-de-semana já não teria aqui o voto da Antonieta!

Não é que o sacaninha, que me galanteia com sorrisos e bonitas palavras, demasiado elegantes para que eu perceba, sempre que aparece na televisão, andou a fazer exames mais fáceis para os alunos entrarem todos nas universidades! Por isso é que todos os anos a coisa piora! São cada vez mais futuros doutores! E cada vez menos hospitais, diga-se de passagem...

Futuros doutores, em cursos que eu nem sei para que servem! Os de análises são os vampiros que me tiram o sangue todo quando vou ao hospital para me verem as plaquetas. Mas e os outros?! São Coiso-logias, Orto-coisas e Coiso-terapias! E há aqueles que não sabem cantar as músicas daqueles hippies, os ABBA! Não percebo, sinceramente. Eles bem que gritam os nomes, mas não se percebe nada. Todos a fumar aquele pólen, a beber vodka ou cerveja (não sabem o que é um bom Porto!), a encher as crianças com ovos e águas de bacalhau e dizem-se o futuro! E não me esqueço daquela menina, uma tal de Geninha, como a tratavam os amigos todos bêbados! Eu bem a vi a andar de bengala e a tropeçar pelo relvado à procura de um sítio para fazer xixi. Mas eu enchutei-a logo! No jardim da Antonieta é que não!

Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Matias - O Gato Pirómano


Meus Queridos,
A Dona Antonieta está de volta! O meu netinho Afonso levou-me o Magalhães dele quando foi de férias e desde então só pude relatar os meus dias ao meu gato, o Matias. Valha-me alguém que me oiça sem dar opinião. Mas os olhos daquele gato bem que me julgam, uma vez por outra. Quando lhe disse que escondi as flores que a Madalena levou para a igreja porque eram feias e atraiam os pulgões, o malandro revirou os olhos e foi-se embora.
Mas eu disse-lhe: «Matias Francisco! Não me revires os olhos dessa maneira que eu ainda me lembro daquela vez em que tive que te meter betadine na cabeça por teres tentado saltar na gata da Jertrudes! Gato variado! Eu é que sei!»

E foi nessa noite que o ladrão atirou o meu diário para a lareira. Fiquei logo com os meus filhos à perna a dizer que era melhor enfiarem-me num lar barato, porque a mamã já andava a pegar fogo às coisas. E não é que todos se riram na minha cara quando eu lhes disse que tinha sido o gato Matias! O Ultraje! Mas o Matias não se ficou a rir. Ninguém goza com a Antonieta! Ficou dois dias sem comer!
Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sábado, 1 de agosto de 2009

Ordenados e Reformas


Primeiro dia do mês e ainda não recebi a minha reforma! Como todos vocês sabem, as reformas são entregues por ordem alfabética. Por isso é que a Gracinda só recebe a reforma dela a meio do mês. Eu, por meu lado, Antonieta recebo sempre no início do mês. Hoje, apanhei o autocarro, fui aos correios, que abrem ao Sábado de manhã, e estive lá desde as nove da manhã até ao meio dia. Uma pouca vergonha! Três horas e ninguém enviou a minha reforma. Eu, Antonieta, que amanhã queria ir à feira da ladra para comprar uns sapatos que condizessem com a camisola amarela que tricotei para a minha neta Olívia. Assim, terei que lhe comprar uns que custem menos de 10 euros, ou fico sem dinheiro para comprar pão.

E por falar em descendentes, muito espantada fiquei quando me cruzei com a Celeste, a caminho de casa, e ela tinha a camisa de seda mais elegante que eu alguma vez a vi vestir. Quase fazia com que ela parecesse mais magra. Juro! Muito bonita a camisa!

Muito bem, onde é que ela foi arranjar dinheiro para uma camisa dessas, quando ela até recebe a reforma depois de mim?

O filho mais velho dela, o Gonçalo, que trabalha numa fábrica de curtumes e cheira sempre mal, recebeu ontem o ordenado e pediu logo à mulher, a Fernanda (que era uma rapariga muito jeitosa quando era nova, mas desde que engravidou do primeiro filho, isso é que foi vê-la engordar), para comprar qualquer coisa para a mãe dele, para agradecer por causa da pobre mulher tomar conta daqueles dois estafermos de netos que ela tem. Pobre coitada.

Mas pobre de mim, também! Tive os meus quatro filhos, de parto natural, casei-lhes os filhos deles e ainda mudo fraldas aos meus bisnetos, e é vê-los agradecer-me! Em vez de me comprarem uma camisa de seda, ou de me convidarem a passar uns dias de férias com eles, ralham comigo por tentar ajudar a minha Olívia a arranjar um bom partido... Que mal faz tentar que a rapariga deixe de gostar de meninas e se case com um rapaz que não se importe com isso? E ainda me dizem que se ela for monossexual isso é normal e eu não tenho nada que a chatear! Chatear! Chamam-me chata! Na minha terra, chatos são uns piolhos que aparecem lá em baixo e fazem comichão! Chamam-me chata! Eu dou-lhes os chatos!

Sinceramente...

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Josefa foi para o Brasil


A Josefa foi para o Brasil! Pronto! Já disse! Aquela porca, depois de me andar estes anos todos a pedir açúcar emprestado e a destruir os meus canteiros, decidiu fugir para lá, sabendo que eu não a apanhava. O que ela não sabe é que eu tenho as minhas poupanças e um dia, se me passa pela cabeça, pego em tudo e vou para lá atrás dela. Imagine-se... A Josefa no Brasil!

Ela não se deve é lembrar é da gripe A e Deus me perdoe por dizê-lo, mas aquela vadia vai apanhá-la! Eu já me preveni! Tenho duas caixas de Tamiflu na cozinha, escondidas atrás do fogão, porque a minha filha mais velha anda sempre a ver o que eu ando a tomar, e também já fui falar com o Dr. Alberto para me meter na lista para receber a vacina. Ele disse que não havia lista nenhuma, mas a Antonieta é que ele não engana e obriguei-o a escrever no Magalhães dele que a Antonieta era a primeira a ser vacinada. Podem ter a certeza que quando levar a injecção, vou logo apanhar um avião para o Brasil e hei-de apanhar a Josefa a vadiar na praia com um velho brasileiro fala-barato a espirrar para cima dela! O marido dela pode ter morrido há dez anos, mas não é desculpa para largar o luto e ir assim para além-mar!

Já agora, aproveito para dizer que a minha Olívia já parece mais bem encaminhada. Consegui ensiná-la a bordar, e a rapariguinha engana-se muito! Mas tenta, e isso é o mais importante! Ainda ontem fez um napronzinho sem jeito nenhum, mas eu roubei-lho e durante a noite tive a fazer a rendinha toda como deve ser para ela não passar vergonha nenhuma quando a Gracinda cá viesse a casa coscuvilhar.

E aproveito também para desabafar que os nossos filhos quando crescem são uns mal agradecidos! Eu tive este trabalho todo a casar-lhes os filhos, e eles ainda me vêm puxar as orelhas como seu eu fosse uma criança! É verdade que eu não casei o meu neto Ricardo, mas antes o tivesse feito, porque aquela criatura possuída pelo Demo decidiu casar-se com uma matrona vinda das Áfricas e já tiveram dois filhos da cor do café com leite... De resto casei o meu Filipe (tão gracioso que é aquele rapaz... casei-o com a bela Joaninha, neta da Matilde, tão minha amiga), casei a Aninhas (tão linda com o vestido de noiva que eu lhe fiz), a Maria, o João, a Margarida e o Bernardo. Só me falta a Olívia! E os pais dela virem-me chatear... Já sou uma senhora de idade! Dizem-me que ela já é crescida e sabe do que é melhor para ela, e para eu não andar sempre em cima dela. Se andasse sempre em cima dela, a minha neta nunca tinha ido ver maminhas no Magalhães! A rapariga precisa de quem a ensine a ser uma senhora! Se os pais dela não o fazem, faço-o eu! Valha-me minha Nossa-Senhora dos Aflitos e o Dr. Alberto, porque este meu coração não aguenta de tudo! Eu ia morrendo quando me disseram que se a Olívia "gostasse de meninas" isso era problema dela!

Que escândalo! Que escândalo!

Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Silicona no Magalhães - Uma mensagem para o Sr. Sócrates e como eu resolvi o problema!



Meus Queridos,

Estas últimas semanas têm sido um verdadeiro pesadelo. Então, não é que encontrei a minha neta Olívia a ver senhoras de má fama no Magalhães?!

Em primeiro lugar, venho aqui criticar o Sr. Primeiro Ministro José Sócrates, que apesar de ser um gentil-homem muito bem falante, com um bom corpo e uns modos muito aristocráticos, permitiu que o aparelho dele mostrasse coisas dessas. Acredito que ele só queria ensinar as crianças a ler e a escrever, mas não estou em crer que o Magalhães anda a mostrar maminhas para as crianças saberem de onde vem o leite.

Em segundo lugar, tenho a dizer que esta foi uma situação muito cansativa para mim, por causa de todo o trabalho que me deu. Eu já desconfiava que a minha neta Olívia não era muito normal. Já tem vinte e dois anos e ainda não está casada. E também já desconfiava que ela gostava de outras meninas. Mas andar a ver meninas de má fama no Magalhães foi para mim a última gota e meti as mãos à obra.

A minha Olívia, que nunca fala, começou logo a dizer que estava só a ver como funcionava isso de meter silicona para aumentar os peitos, mas eu sei que não era isso que ela estava a ver como funcionava. Ela não precisa de silicona. Se comesse mais, como eu lhe digo, as maminhas dela cresciam logo. Mas aquilo também já é mal de família. Foi buscar o peito ao lado do pai, porque a minha filha nunca teve problemas desses.

Ora a rapariga a mim não me engana. Nessa noite fiz-lhe logo um chá com os comprimidos que a Gracinda me emprestou, por causa da menopausa. No dia seguinte, falei com a Celeste, que também tem um neto algo duvidoso e fizemos logo um arranjinho, a ver se aqueles dois não se estraviam dos caminhos do senhor. Foi difícil convencê-los, mas depois de a ameaçar com uma trombose, consegui que a Olívia fosse jantar com aquela criatura que é o neto da Celeste. Que ninguém lhe conte, mas aquele rapaz feio parece filho de uma morsa!

Passados dois dias já andavam a conversar um com o outro e eu e a Celeste já começávamos a andar mais descansadas. Mas depois aquele pequeno monstro ofereceu uma pequena caixa de Pandora para a minha Olívia. O que vale é que eu tenho faro para estas coisas e percebi logo que aquele presente tinha a maçã de Adão lá dentro e de lá só podia vir a chave para o Inferno. E não é que eu tinha razão?! Uma caixa com pinturas para a minha Olívia se pintar como uma daquelas rameiras que andam a mostrar a combinação nos Morangos com Açúcar, que ninguém me pode negar que é produto do Belzebu!

Obriguei-a a queimar aquelas coisas com uma vela que eu tirei da sacristia da Capela da Nossa Senhora dos Aparecidos e obriguei-a a rezar o terço comigo, todos os dias, ao acordar para começar o dia na Paz do Senhor, ao almoço para comer com a benção do Senhor e ao fim do dia para dormirmos com o Senhor.

Eu rezo muito, meus filhos, mas o Senhor não me facilita as coisas e tenho que andar sempre a vigiar os trilhos que a minha prole anda a percorrer. O chifrudo anda à espreita a toda a hora e não se cansa de procurar novas almas para enganar. Tenho a certeza que é o Sr. Albino que mora na Rua das Flores. Desde que a mulher lhe pôs os cornos que anda sempre de olho nas moças mais jovens. Imagine-se... ainda a semana passada foi jantar com a Lucinda, pobre alma, vinte anos mais nova que aquela carcaça velha de sessenta anos.

Não se deixem enganar pelo chifrudo, meus filhos. Assim, já sabem onde ele mora.

Que Deus vos acompanhe, na Paz do Senhor...


Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Saudações, Camaradas!


Sejam muito bem vindos ao meu diário.


O meu nome é Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita e como o meu gato atirou o meu último diário para a lareira, decidi usar este brinquedo do meu bisneto Afonso.

Nos próximos tempos, quando eu souber trabalhar melhor com este estranho Magalhães, partilharei convosco as minhas aventuras, emoções e vivências do dia a dia. Agora tenho que me despachar, porque a porca da Josefa, a minha vizinha, já me anda a destruir as flores do meu canteiro outra vez. Desta vez, ela vai conhecer o sofrimento.


Muitos beijinhos, meu filhos. Que Deus vos acompanhe, na Paz do Senhor...


Atenciosamente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!