sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cataratas de Limonada

A mais triste notícia espalhou-se pela Capela da Nossa Senhora dos Aparecidos como um rio, enquanto rezávamos o terço na quarta-feira à noite. Descobrimos que a Lucinda, pobre alma, via mal porque tinha cataratas nos olhos. A mulher só tem 46 anos e ninguém me tira da cabeça que este infortúnio lhe bateu à porta por ter jantado com o Sr. Albino da Rua das Flores. Aquele homem é o Demo! Já tem sessenta e tal anos e desde que a mulher lhe pôs os cornos que decidiu comportar-se como o Chifrudo, a engatar mulheres mais novas e a fazê-las cair na tentação! À Antonieta é que ele nunca fez um convite para jantar! É só interesses!

Ora, para ajudar a pobre Lucinda, decidimos todas juntas angariar dinheiro suficiente para que a Lucinda pudesse ir a Cuba. Não percebo porque é que começaram a perguntar quanto é que custa o bilhete de avião, quando o Alentejo fica aqui tão perto. Devem ter medo que ela vá de carro e tenha um acidente.

Assim, ontem passei o dia a vender limonada com a Gracinda. Fizemos vinte euros. É um bom começo. Como o meu reumático já não me deixa segurar bem na faca, pedi à minha querida neta Olívia que me ajudasse. Claro que ela deu muito jeito a cortar os limões, a expremê-los, mas eu é que fiz a limonada. Deixo-vos já aqui o meu segredo: açúcar amarelo e uma pitadinha de guano seco, que é uma especiaria que o meu neto Ricardo trouxe das Áfricas depois de se casar. Mas não exagerem. Tem que ser na quantidade certa.

Continuando, o que eu queria era que a minha Olívia vestisse a camisola amarela que eu lhe tricotei pelos anos e me ajudasse a vender a limonada, porque nesta zona há muitos homens bem parecidos que podiam ser um bom partido para a garota. Mas a rapariga é tão tímida, tão vergonhosa! Passei a tarde a tentar convencê-la e ela só continuava a espremer limões!

E não é que, quando finalmente a convenci a vender uma limonada a um senhor que ali passava, ela conseguiu espantar-me o cliente? O gentil-homem, muito bem vestido e nos seus trinta e poucos anos (toda a gente sabe que uma rapariga, para se tornar uma boa mulher, precisa de um homem mais velho), foi sempre muito simpático e mandou algumas piadas simpáticas para a minha neta se rir para ele. E conseguiu. Eu própria, que estava a ver o enamoramento entre aqueles dois tão bem encaminhado, não consegui conter um sorriso de satisfação e de dever feito. Mas não é que, quando ela lhe estava a entregar o copo com a limonada, passa uma rabanada de vento que lhe levanta a saia?! E a desavergonhada não usava cuecas!!! O homem viu-lhe a piriquitita toda! TODA!!! Eu chamo-me Antonieta Piriquita e nunca mostrei a minha a ninguém!

Aquilo é que foi ver o homem recuar embaraçado! A vergonha que eu tive! VERGONHA! Nunca vi um homem beber uma limonada tão depressa! Até se engasgou! E no fim, soltou um «'Brigado!», como quem arrota e foi-se embora! Vou ter que ensinar tantas àquela rapariga! Se julga que vai ser Nossa Senhora e vai ter um filho do Espírito Santo, está muito enganada!
Sinceramente...

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

P.S.: Que Deus vos acompanhe, na Paz do Senhor!

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