sábado, 5 de dezembro de 2009

Pequenos Criminosos e O Fim do Mundo! - 2ª Parte

Uff... Já estou mais recomposta agora...
Como eu vos estava a contar, esta semana vi algo que só podia ser obra do diabo, pela janela do meu quarto.
Pela janela do meu quarto consigo ver o pátio da escola primária, onde aquelas pequenas criaturas a que toda a gente chama crianças brincam e gritam e acabam por chorar algumas vezes. Pois fiquei estarrecida quando vi um espectáculo inimaginável. Um dos miúdos, o Rodrigo, neto da Hortênsia, que tem muito mau feitio, estava sentado nos degraus da escola a observar um pombo. Observava o pombinho, com aqueles olhos redondos de atrasadinho que a avó também tem, com tanta atenção, que seria de esperar que até fosse boa pessoa. Levanta a sacola, tira de lá um pão com marmelada que a mãe deve ter comprado na mercearia do Sr. Alberto, que é muito boa e docinha cá dentro, começa a atirar bocadinhos de côdea ao bicho. O pombo louco a devorar os bocados de pão que voavam pelo ar, o miudinho a observá-lo calado e os colegas a correr e a saltar pelo recreio que nem cabrinhas montesas. Até aqui tudo bem.
Porém, o Rodriguinho farta-se e atira com o papo-seco inteiro ao pombo. Enjojado, o bicho ainda cambaleia algumas vezes, mas depressa se apercebe do banquete que lhe tinha caído em cima e começa a comê-lo. O Rodriguinho deve ter ficado desapontado e levantou-se. Pronto, vai brincar com os amigos, não é? Não! Pega numa pedra bem grande e atira-a ao pombo! Desta vez, o animal não se refez tão depressa. Já nem conseguia fugir do miúdo enquanto este levantava o pedregulho do chão e se voltava a aproximar. O bicho bem que abanava as asas e se contorcia todo, mas já era tarde de mais. Leva com a pedra mais duas vezes antes de parar de se debater. Depois, era ver o Rodriguinho a correr atrás de um colega, com a pedra sangrenta e com penas nas mãos. O colega bem que gritava "Não me toques com essa pedra", mas o Rodriguinho não desistiu enquanto não lhe sujou as calças e um jovem bastante elegante que passava pela rua apareceu para lhe puxar as orelhas.
O Demo andava à espreitei e encontrou ali um súbdito fresquinho! Ele anda à caça de seguidores e o Dia do Julgamento aproxima-se cada vez mais! Temos que ler os sinais! Eles andem aí!
Seja como for, eu adorei ver a forma como aquele jovem rapaz soube dar uns açoites bem valentes no rabo do Rodrigo. Aquele miúdo bem os merecia. O rapaz sabia como dar educação às crianças. "A força da mão é o melhor remédio para a má educação!" Eu sempre o disse. Há-de ser um bom pai, um dia. Tenho a certeza. E, pelo aspecto, julgo que deve ter tudo o que é preciso num bom homem de família, se é que me entendem... Mesmo sendo tão difícil de se enamorar por rapazes, estou certa de que até a minha neta Olívia era capaz de o achar encantador. Oh! acrescentem-lhe uns anos e hão-de ver o homem que ele há-de ser! Já é tão alto e robusto... Esperem para ver!
Acontece que eu não ando a ver o tempo passar, excepto quando não há nada para fazer, e decidi meter mãos à obra. Saí de casa, atravessei a rua e Pum! Estatelei-me no chão. O jovem encantado largou logo o Rodrigo da mão e veio em meu auxílio! Ajudou-me a levantar-me do chão, uma pobre velhinha em apuros. Estava tão desorientada (pensava ele) que nem me lembrava onde ficava a minha casa! Tão prestável que ele era! Levou-me para o emprego dele, onde eu poderia ficar em segurança até alguém me ir buscar. Chamava-se Jorge e trabalhava num cinema. Para quem não sabe, um cinema é como um teatro, onde as pessoas se sentam e vêm um filme numa televisão gigante. Fui algumas vezes, quando era jovem, com o meu Arnaldo. Mas depois os filmes ficaram a cores e perderam a piada. Já não tinham o mesmo encanto.
Continuando, quando lá chegámos, ele puxou uma cadeira para eu me sentar, muito cavalheiro, atrás do balcão, para eu poder fazer uma chamada para alguém da minha família. Telefonei para a minha Olívia, claro. Mas a porcalhona só foi capaz de ir buscar a avó meia hora depois. Tratei logo de os apresentar. Ainda passei as mãos pelo cabelo dela e tirei-lhe aquele maldito gorro que ela agora usa. Penteei-a com os dedos, enquanto ela tentava livrar-se de mim, mas acho que consegui que ela se parecesse com uma cidadã e o querido Jorge foi muito simpático com ela. Disse que não tinha muito tempo, porque as pessoas já estavam a entrar para as salas e ele tinha que ir projectar o filme, mas deixava-nos entrar de graça, se nós quiséssemos. Dei uma cotovelada na Olívia e ela aceitou. Até sorriu para ele. Finalmente, começou a aprender comigo!

Mas, sinceramente, preferia, agora que já vi o filme, que ela tivesse rejeitado a oferta. O filme era estrangeiro e tinha legendas que passavam demasiado depressa e era-me difícil lê-las. Depois havia uma gruta com água a ferver. A história estava um bocado confusa, mas pareceu-me que a água estava a ferver porque ó Inferno estava a chegar à terra. Depois, havia um homem barbudo que não sabia comer sem se babar todo e outro que estava divorciado e tinha levado os filhos a acampar. Finalmente, o diabo parece começar a conseguir abrir umas fendas no chão com terramotos. E que terramotos! Aquilo parecia o fim do mundo! Era gente a morrer em todo o lado e a cair de prédios e aviões a voar pelo meio! Meu Deus! Eu não parava de me contorcer! Estava quase a gritar! Mas como eles deviam ser boas pessoas, Deus até os salvou e eles conseguiram escapar. Mas depois... Ai, Credo! Quando o Diabo consegue escapar por uma montanha... Foi uma explosão de queimar os olhos! Um mar de chamas assustador! Uma nuvem de fumo e brasas a espalhar-se pela terra inteira! Eu não aguentei mais e comecei a gritar! Ainda por cima começaram a agarrar-me por todos os lados! Eram só mãos à minha volta e a puxarem-me! Eu gritava por ajuda! Uma ajuda que não chegava! «Oh, Meu Deus! Oh, Meu Deus! Salva-me! Oh, Meu Deus!» Eu meti as mãos nos olhos e só os abri quando aquelas mãos me largaram e eu já estava fora do cinema. A minha Olívia dizia-me para me acalmar, que era só um filme! Mas como é que podia ser um filme, se eu tinha acabado de ver aquilo tudo! O homem das barbas e aquela gente toda tinha morrido! E a nuvem demoníaca que saiu com a explosão de certeza que vinha a caminho! Eles podiam achar que não, mas aquilo tinha acontecido e de certeza que era o diabo a invadir o mundo! Eles não perceberam o filme! Aquilo era a sério e eles não perceberam!
O Jorge chamou um táxi e a Olívia levou-me até casa. Deu-me um chá e chamou a fufa Diana para me dar uns comprimidos que ela toma quando está nervosa, mas ainda não consegui parar de tremer! Nem durmo bem à noite! O mundo é grande, mas eu sei que ele vem aí. Foi por isso que Deus me deu o gato Matias! É o meu guardião. E é ele que vai decidir se eu fico cá em baixo a arder ou se vou para o Céu! E eu hei-de ir para o Céu, ou não me chamo Antonieta!
Sinceramente,
Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

1 comentário:

  1. ai jesus nossa senhora... é o fogo do inferno! :P adorei, a do pombo então...deliciosa! ;) nem sei onde vais buscar tanta imaginação..será q vives à frente duma escola primária?! =p

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Falem com a Dona Antonieta. Ideias, críticas, dúvidas existênciais... A Dona Antonieta terá todo o prazer em responder...
Mas sem palavrões! Nada de ofender o Senhor!
Beijinhos, meus queridos.