quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dona Antonieta está de volta!


Meus queridos! Tantas saudades que eu tive de partilhar os meus dias convosco... Depois dos pequenos incidentes com a X-Box de há uns meses atrás, os meus filhos pensaram «A mamã está a ficar muito solitária e isso já não é bom na idade dela. Devíamos enfiá-la num LAR, COM OUTROS VELHINHOS CAQUÉTICOS COMO ELA!» A mim, Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita! Como é que foram capazes? Eu que sempre fiz a minha vida sem ajuda de ninguém, sempre tive a minha casa e lutei pelas minhas coisas! Até os meus bibelôs! A quantidade de vezes que lutei com aquela vaca da Josefa (que ainda não voltou do Brasil) pelos bibelôs que agora enfeitam os meus móveis! Consegui vencê-la sempre! Ela nunca comprou um bibelô que eu quisesse comprar!

Continuando... Eles levaram-me para um lar (supostamente) de luxo, com muitas regalias e muitos velhinhos com quem eu poderia conversar, mas aquilo era uma treta pegada! A maioria dos velhinhos nem falavam! Babavam-se! E aquilo não tinha luxo nenhum, se é que chamam luxo a eu ter o meu próprio quarto e uma casa de banho privada! A isso eu não chamo luxo! Chamo "o mínimo aceitável" para uma senhora como eu! Não vivi estes anos todos para me atirarem areia para os olhos!

Seja como for, lá conhecia a Julieta, uma grande coscuvilheira, mas boa amiga. Podíamos passar horas a conversar. E como o lar tinha muita gente, não era difícil arranjarmos motivo de conversa. Havia sempre os podres de alguém, os boatos deste e daquele... e como ela já lá estava há dois anos, conhecia também muitos outros que também por lá tinham passado, mas que já não se encontravam entre nós. Infelizmente, descobri mais tarde que metade das histórias eram falsas e que da mesma forma que ela falava comigo sobre os outros, falava com os outros sobre mim. Claro que ela não se ficou a rir, quando passaram no noticiário que se tinham casado duas lésbicas em Portugal (o Demo anda ocupado...) e eu me levantei-me e disse, diante de todos, alto e bom som, que uma delas era filha da Julieta!

Perdi uma amiga e ganhei muitas mais. É como na escola. Assim que mostrei que com a Antonieta não se brinca, tornei-me popular. Até tive os meus interesses amorosos. O Manuel Fonseca era muito galante, mas estava tão gordo, valha-me Deus... E o Alberto Silva também era um senhor com H grande (e não só, pelo que as enfermeiras davam a entender com os seus borborinhos, de cada vez que o ajudavam a tomar banho), mas era careca e faltavam-lhe dois dentes na dentadura... O Norberto também era encantador e sabedor na arte do engate, mas era casado e a mulher dele também habitava aquele lar. Lá por a mulher dele estar em coma, o casamento não deixa de ser sagrado...

Todavia, o meu Zé, o meu filho mais velho, foi despedido, e era ele que pagava a minha estadia neste "lar de luxo". Acontece que não é o meu único "filho despedido" e assim já não havia dinheiro para a mamã estar "internada" naquela espécie de hospício infernal onde me obrigavam a comer canja dia-sim-dia-não e a comer gelatina de pêssego quando o que eu queria era a de ananás.

Estou de volta, meus queridos! Estou em casa. O gato Matias foi quem sentiu mais a minha falta. Tão magrinho que ele está, depois de ter enchido a barriga a todas as gatas da vizinhança. Depois a dona é que tem de ouvir a Gertrudes a gritar porque a gatinha dela está prenha outra vez. Mas não faz mal. Agora, a Antonieta está de volta!

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Mas sem palavrões! Nada de ofender o Senhor!
Beijinhos, meus queridos.