domingo, 10 de janeiro de 2010

Festas! O meu dia de Natal...


Meus Queridos! Devem ser as únicas pessoas que me adoram! Desculpem-me ter estado afastada de vós durante tanto tempo! Estas festas todas são demais para uma senhora de idade como eu, que sofro tanto da minha saúde. Todavia, primeiro que tudo: Um Glorioso Ano Novo para todos, na paz do Senhor, com muita luz e com Jesus nos corações.

Nem vão acreditar nas minhas desventuras, ao longo das últimas semanas. Depois de todas aquelas tempestades, que quase me fizeram pensar que 2012 tinha chegado e ia conhecer o Senhor, tive dois dias para limpar a casa, completamente sozinha, com a fraca ajuda da minha Olívia, e deixar tudo pronto para o Natal, porque os meus filhos queriam que a família se juntasse toda lá para celebrar as festas e a casa da mamã é maior que as deles. Tantas limpezas deixaram-me os bafos de fora. A Olívia varreu-me o chão todo e lavou-o e eu tinha que ir sempre atrás dela, porque a rapariga é muito pouco dotada para dona-de-casa e ficava tudo sujo na mesma. Nem as minhas estatuetas de Nossa Senhora dos Aflitos ela sabia limpar bem e arrumar no sítio certo dos móveis. E os cortinados que ela queria que eu pendurasse na janela da cozinha! Que horror! Tive que esperar até a rapariga sair de casa para os trocar. Estava sempre a mandar-me sentar, que não queria que eu me cansasse e que ela era muito bem capaz de tomar conta do recado e tratar da minha casa sozinha. Mas se não fosse eu, aquilo nunca tinha ficado pronto para o Natal. O que ela não queria era que eu a estivesse a tentar ensinar a cuidar da casa, como uma senhora deve ser. Eu, que sou uma avó tão preocupada, calhou-me uma neta que não sabe dar valor ao que eu lhe tento ensinar todos os dias. Porém, ainda não disse tudo!

Mal consegui dormir na noite de 24 para 25. Depois daquela Consoada que a minha nora preparou, tão desleixada... Se há coisa de que eu me arrependo é de ter deixado o meu filho mais velho casar-se com aquela mulher. É bondosa e muito fértil... Mas não sabe cozinhar! Parece impossível! O bacalhau era seco e não tinha sabor. As batatas estavam cruas e serviu-nos marisco para as entradas! Marisco! Queria matar-me! Até parece que não sabia que eu era alérgica ao marisco! Gritava comigo para eu não comer os camarões e punha-me um pratinho com queijinhos ao colo para eu comer. E de cada vez que eu me enganava no prato e pegava num camarãozinho, lá vinha ela aos gritos, a dizer que eu não os podia comer! Se eu não os podia comer, por que é que ela os tinha comprado para a Consoada? Era para me matar! Só podia ser por isso...

Depois de me ter enchido de nervos, empanturrei-me com sonhos e rabanadas e tive pesadelos toda a madrugada. Quando, finalmente consegui adormecer, acordei com os gritos dos meus trezentos bisnetos. Tanta criançada, Credo! Nem sei o nome deles! Chamo-lhes meninos queridos e eles pensam que gosto deles, mas mal os conheço, porque os pais nunca me vêm visitar. Só na altura de lhes comprar prendas. Contudo, como eu nunca sei quando é que as criaturinhas fazem anos, tenho uma caixa cheia de peluches por baixo da cama para oferecer quando eles me visitam. Seja como for, eles estavam a gritar por causa do Pai Natal. Ele tinha-lhes levado presentes durante a noite!

Ai, se eu detesto o São Nicolau! Esse homem não era santo nenhum! Roubou o dia de aniversário do menino Jesus, e só se fala no velho de barbas que dá presentes! Na minha terra, o velho de barbas que dava presentes era o Sr. Agostino, que tinha muito más intenções e teve que ser imasculado para deixar as crianças em paz. Levantei-me da cama em combinação e saí para a sala para lhes ensinar que era o dia de Jesus e não o do Pai Natal, mas as crianças começaram a gritar assustadíssimas quando olharam para mim e as minhas filhas levaram-me novamente para dentro do quarto para me vestirem e porem-me decente para as festas.

Tivemos que comer um perú recheado que tinha um molho que a minha nora inventou. Toda a gente gabou aquele molho, mas cá para mim aquilo era só aguardente para nos embebedar a todos. E doces, todo o santo dia! E cházinhos! E o berreiro daquelas criaturas pequenas com os seus brinquedos barulhentos! E visitas! Sempre a aparecer gente que dizia que me conhecia, mas que eu nunca tinha visto na vida. Claro que fui simpática para toda a gente e disse sempre «Ah, sim! Eu lembro-me de ti quando eras pequeno... És aquele que me vinha roubar as laranjas do meu quintal!» ou então «Ah, sim! Eu lembro-me de ti quando eras pequena... És aquela que corria em cuecas no recreio da escola!» Toda a gente se ria muito e deixavam-me em paz.

Entretanto, como estava cheia de comida até ao pescoço e estava cansada de tanta confusão, decidi que estava a precisar de dormir uma sesta e adormeci no sofá... Até que fui acordada pela voz da minha Olívia a dizer:

- Já viram a boca dela? A velha morreu ou está a dormir?

Teve muita sorte, por estarmos no Natal. Estive quase para a tirar do meu testamento. Contudo, em vez disso, limitei-me a murmurar, ainda de olhos fechados:

- Posso parecer uma morta a dormir, mas pelo menos a minha pachacha funciona!

Posso ter deixado a criatura a chorar, e os meus filhos a ralharem comigo, e os meus bisnetos a perguntarem aos pais e à Olívia o que era uma pachacha, mas acabei o Natal a rir-me que nem uma perdida.

Sinceramente,

Antonieta de Jesus Cristo-Rei no Céu e na Terra Aleluia Piriquita!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Falem com a Dona Antonieta. Ideias, críticas, dúvidas existênciais... A Dona Antonieta terá todo o prazer em responder...
Mas sem palavrões! Nada de ofender o Senhor!
Beijinhos, meus queridos.